terça-feira, 29 de maio de 2012

It`s all about madness


Entrar profundamente no processo de cura.
Mexer no que dói há tempos, para quebrar as estruturas.
Mover os padrões do mais profundo.
Pressionar a dor para que algo saia do obscuro.
Por que tem que ser assim tão forte?
Intenso…
Doloroso…
Maluco…

A decisão de vir a Mysore foi bem objetiva.  Quero curar, não encontro o meio sozinha e tenho fé de que ele pode me ajudar.
Mais de 14h de viagem num ônibus leito. Viajar na India é uma aventura, principalmente quando se sai da proteção da casa. E acabamos nos sentindo em casa em qualquer lugar.
Voltar após 2 anos e meio, com outro foco, que recai no mesmo objetivo.
Akash.
Difícil expressar em palavras tantas sensações que comumente não são abertas.
Falar de sofrimento geralmente gera tristeza, mágoa, arrependimento.
Mas o ponto aqui do sofrimento, é realmente encarar a dor como parte de um processo de cura muito, muito profundo. De coisas que carregamos no nosso corpo e que não sabemos de onde, ou porque vieram.
E já que não possuimos a inteligência ou o conhecimento para sozinhos tirarmos esse incômodo dai, se queremos mudar, a unica forma (para alguns) é na força, na marra.
Assim foi o tratamento.
Dói. Muito! Parece uma tortura. Com o conhecimento de um gênio.
Me senti uma criança. Chorando de soluçar. Desolada. Vulnerável. Exposta. Resistindo a entregar-se. E aprendendo a soltar no pior momento.
Como se a morte estivesse chegando, e a mente, querendo dominar, traz a loucura, mas quando percebe que não tem poder sobre nada, entrega e deixa ir.
Algo do tipo: entrego, confio e agradeço… Já que não tenho outra escolha.
E assim foi.
Encarei mais uma etapa de um dos processos de muitas loucuras que resolvi criar para a minha vida.
Sei que essa estrutura vai mudar.
Já são 4 anos de uma lesão na perna que não foi bem tratada, e com o tempo foi criando tensão na musculatura do quadril e lombar.
Piriforme. Gluteo medio. Ciatica. Tendão. 
Tensão, compressão, rigidez e compensação.
Tudo começou com um corpo rigido, que com tempo e prática se tornou flexível. Foi em um instante além do que deveria. E assim voltou atrás, e se encurtou. Tinha a memória, sabia que um dia pôde executar. Então arranjou outras maneiras erradas de fazer. Totalmente inconsciente. Desviando do problema.
Até parece que a vida é assim: ‘espera que o tempo cura’… 
Se não faz o que tem que ser feito, o problema fica guardado escondido, no escuro, bem la no meio, entre um musculo e outro. Não tem como desviar do que não está bem. Tem que pôr atenção. Colocar luz para ver. Olhar a dor, encarar, ser forte, cuidar e curar.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

União de vrttis


Preciso estar em silêncio,
Para absorver o conhecimento.
Observar meus vrttis,
Só posso ter acesso de maneira consciente.
Se estou quieta, calada, concentrada, presente.
As tendências se manifestam ai, a qualquer momento.
Mas para aprender, tem que parar o movimento.
O processo agora é ter consciência de tudo isso vivendo com um parceiro ao lado.
Estar casado é ter vrttis ao dobro para observar.
São tantas histórias e questões,
Idéias e ilusões que aparecem na vida,
Que quando se tem alguém para compartir diariamente, tudo fica mais intenso.
Já que ambos compartem os vrttis.
Uma junção de energias.
Que se ajudar a crescer.
E compreender.
Questionar o inquestionável.
Duvidar suas certezas.
Fortalecer através do poder.
De se entregar a si mesmo.
E perder todo medo.
De estar sozinho.
Para aí poder conhecer.


E mais uma vez, a voz sussurra



Ela só precisava dar ouvidos à voz selvagem que vive dentro de todas nós, 
a que sussurra, 
"fique aqui o bastante... 
fique o tempo necessário para reanimar sua esperança, para abandonar seu sangue-frio terminal, para renunciar as meias-verdades defensivas, para se insinuar, para abrir caminho com precisão ou com violência; 
fique aqui o suficiente para ver o que é bom para você, para se fortalecer, para fazer aquela tentativa que terá sucesso; 
fique aqui o suficiente para completar a corrida, não importa quanto tempo demore ou de que forma isso ocorra".

Clarissa Pinkola Estés
Mulheres que Correm com os Lobos

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Encarar a cura


A cura...

Tem que ter persistência.
Coragem.
Instinto feminino.
Observar-se.
Entregar-se.
Entrar na profundidade.
Com olhos abertos.
E corpo preparado.
Mente desperta.
Sem desviar do caminho.

Não há caminho que pode ser percorrido da maneira devida se for desviado.

Não existe shortcut.
Tem que enfrentar tudo o que vem.
Sem fuga.
Olhar para a dor.
Meditar.
E não fugir dela.
Entrar na dor.
Sem se machucar.
Se há algo para curar, aceito.
Faço o que tem que ser feito.
Encarando a verdade.
Sem desespero.
Consciência total.
Foco.
E fé.

Om Namah Shivaya

Krishna, Arjuna e Ganapati


Do dia para noite a vida muda.
Ela te dá a vida mesma como presente.

Um simples sábado que fui ao saturday night market para comprar um tecido com um Ganesh, me dá a surpresa de um bebe esquilo órfão em minha casa.
Lembramos que 2 dias antes, a gata que vive no jardim tinha matado um esquilo, para alimentar seus 3 bebes (que nasceram em minha casa).
Ele estava vivo, gritando pela vida, salvando seus irmãos. Que tiramos de um ninho no telhado.
Todos fracos, desidratados, de olhos fechados e vida pulsando.
Usamos o instinto da natureza para alimenta-los.
Soro caseiro, leite em pó e Reiki.
Começaram a andar, crecer e gritar.
Protegemos dos gatos e demos muito amor.
Observamos alguns processos e tinha um ritual antes de dar comida (leite em pó bem fraquinho), como estimular o pipi com algodão umido para fazer xixi e coco. Funciona.
Alimenta-los a cada 3h.
E dar calor.

Cada um com sua personalidade, dai vem seus nomes:
Krishna, que deu um jump de 4m de altura para sobreviver, se arriscando, e salvar a vida de seus irmãos. Por ser o mais forte, gritava alto, das entranhas, para ser salvo e fazer seu dharma.
Ganapati, por seu instinto brincalhão, desconfiado, que andava para tras até pegar confiança, e rápido nos movimentos, animava seus irmãos subindo em cima deles.
E Arjuna, o menorzinho, que saiu do ninho sem forças, magro, e comia mais que todos para continuar vivo. Despertou com um pedaço do ninho enrolado em seu pescoço e braço esquerdo, e assim perdeu o movimento do punho.

Uma semana de muito cuidado, amor e preocupação. Que a cada dia trazia a beleza da essência do ser humano, o pulsar da vida desde os seres mais pequenos, por seu reconhecimento, pelo sentido do olfato, as pequenas mudanças, forma de andar e correr, mamar, o rabo crescer, o corpinho pegando forma ao sair do chão, dormir todos enroladinhos e juntos, ou no cantinho da perna, ou entre os dedos…
Passados 5 dias começamos a dar um leite que foi receitado pela veterinária que veio ve-los. Lactol.
Pelo nome (e cheiro) parece algo bem quimico, criado por nós humanos, pela ciência, para bebes órfãos.
Cada mamada eles mudavam um pouco. Ficavam lesados, andando menos, comendo menos, Arjuna com a barriga inchada e coco água.
Eles já estavam escalando rápido e firme os braços, ombro, roupas, estavam fortes, brincando com as mãos, ainda de olhos fechados.
Ficaram preguiçosos e fracos de um dia para outro.
Sabado eu estava sentada na varanda e vi a gatas, com seus 3 bebes crescendo, mamando, dormindo, vivos com o amor de sua mãe… Me deu um aperto, uma pena por eles estarem só, sem a mãe. Então fui ficar com eles, dar leite e calor.
Uma semana depois de salva-los, de progresso e luta individual, os esquilos pararam de gritar. Um a um, Krishna, Ganapati e por ultimo o guerreiro de menor tamanho, Arjuna, que lutou muito.
Deixamos de ouvir o coração para escutar a ciência… E foi o que foi.
Nos deram uma semana a eternidade do presente.
O presente da vida.
A volta para a essência.
O dharma de cada um.
A felicidade e beleza da vida.
A simplicidade de simplesmente ser.
O amor a cada ser como unico.
Ou como Um.

Hare Krishna!
Hare Arjuna!
Jaya Ganapati!